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Graduação na Capoeira

A capoeira, nos últimos anos, vem passando por um processo muito rico de mobilização e de revisão de alguns modelos tradicionais de organização. Pode-se perceber, com facilidade, que a ampla divulgação que nossa arte-luta alcançou, inclusive tornando-se um dos principais fatores de divulgação da cultura brasileira no exterior, refletiu-se no amadurecimento do capoeirista. Cada vez mais, o praticante, o instrutor e o mestre percebem que é fundamental encontrar caminhos para construir, juntos, o futuro da capoeira.
Além disso, o mundo da capoeira se profissionalizou. Como ocorre em qualquer ofício, os primeiros profissionais atuam de maneira improvisada, valendo-se apenas de conhecimentos tradicionais e transmitindo-os de forma assistemática. De “oitiva”, como se costumava dizer. Atualmente, além de conhecer as tradições e as fontes do saber ancestral da capoeira, exige-se do profissional da nossa luta muitas outras coisas: postura compatível com o local de trabalho, capacidade de dialogar com as instituições e com os demais profissionais da área, contato com o mundo da educação formal, incluindo escolas e universidades e organização típica do mundo do trabalho.

Outro aspecto relevante do cenário contemporâneo da capoeiragem é a relação com as instituições do Poder Público. Cada vez mais, os capoeiristas estão percebendo que não podem ver as discussões da política, seja no campo dos esportes, do lazer ou da cultura, como algo distante. O capoeirista de hoje tem um perfil mais engajado, participa das discussões sobre a capoeira e procura contribuir para sua solução. E sabe que a capoeira é uma poderosa ferramenta para a intervenção, seja no caso da educação infantil, seja voltada para grupos específicos, como idosos, jovens em processo de ressocialização ou pessoas com deficiência.
Nesse contexto, o capoeirista está atento às questões de organização. E um dos temas que sempre retornam ao debate é o dos sistemas de graduação. A utilização de cordas ou cordéis para a demarcação de hierarquias está consolidada há vários anos, e se tornou uma espécie de nova tradição na capoeira.
A Revista Capoeira realizou um amplo levantamento sobre o tema, consultando professores e mestres. Pelas opiniões que estão reunidas a seguir, podemos perceber que o capoeirista acredita no processo de organização das associações e dos grupos, e avalia que é possível caminhar no sentido da unificação dos sistemas de graduação. Com toda razão, a maioria dos mestres consultados acredita que haveria um importante ganho na organização da capoeira, caso conseguíssemos padronizar as sequências de cores que identificam os diversos graus de alunos, professores e mestres.

Por outro lado, como se verá nos depoimentos, o capoeirista critica o abuso das graduações, sobretudo quando são utilizadas com o intuito de lucro. Segundo os mestres entrevistados, o sistema de graduação é fundamental para a organização dos grupos e da capoeira em geral, mas precisa ser utilizado com consciência. A graduação, dizem, deve expressar acima de tudo a experiência e o conhecimento que o capoeirista adquire no contato com a capoeira, absorvendo os conhecimentos de seu professor ou mestre e participando do mundo da capoeiragem.

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